segunda-feira, 25 de julho de 2011

Marcio Americo, e um excelente comentário

Marcio Americo
"Muita, muita merda se falou em razão da morte da Amy Winehouse, mas houve tambem algumas vozes claras e racionais. Uma delas, pro incrivel que pareça veio do vocalista da banda Fresno que falou algo a respeito do mito. O cara (nao sei o nome dele) acertou na mosca ao mostrar que infelizmente ainda persiste o mito do cantor rebelde e drogado, e que, ao invés do público, dos amigos, da imprensa deixar claro o quão destrutivo é a heroina e outras drogas, ao inves de deixar claro que o consumo abusivo de qualquer droga, incluisive alcool pode ser fatal, ao inves disto fica-se glamourizando o uso da droga, mitificando, como se fosse algo que tivesse o poder de catapultar o artista a uma casta superior. Seus fãs, não todos, mas muito deles gostavam de ver Amy chapada no palco. Quando ela esteve no Brasil, muitos fãs aplaudiram em aprovação cada vez que ela tomava um gole, mesmo sabendo que aquilo, para ela, era veneno. Na internet abundam comentarios do tipo: adoro a Amy, ela é muito louca!
Não, ela não era muito louca, ela tinha uma doença.
Não há nenhum moralismo em dizer e saber que drogas podem matar, que drogas nao te tornam uma pessoa melhor, pelo contrario, na maioria das vezes te tornam um mala incoveniente pra caralho. Não foram as drogas que fizeram de Janes Joplin, Elvis, Morrison, Rimbaud, Allan Burroughs artistas geniais, foi apenas seu talento, sua visão de mundo, sua forma particular de produzir, eles foram artistas excepcionais apesar da droga e poderiam ter feito muito mais sem ela.
EU já usei drogas de vários tipos, desconheço outras e sei que elas nunca me tornaram uma pessoa melhor. Claro, não vou cuspir no prato que cheirei, tenho que reconhecer que num primeiro momento é muito, muito prazeroso cheirar, fumar, beber, injetar, mas a longo prazo a destruição é inevitável. Hoje em dia não estou limpo porque acho bonitinho, ou porque dá status, estou limpo porque não tenho outra opção, é isto ou acordar em lugares estranhos sem saber como chegou-se ali, é a correr pela madrugada em busca de uma ultima dose, é a cagada mor se materializando na minha frente e eu ingnorando, bocejando pro inimigo. Nao dá. Quando estive em Sao Paulo, dia 16, fiquei no bar com amigos até de madrugada tomando, pasmem, leite! Tenho testemunhas! E, embora o leite seja um otimo alimento, muita gente espantou-se, abriu-se uma clareira que em unissono gritou/disse/pensou: LEITE?
Acho uma bobogem, alias, acho arriscadissimo esta glamurização da droga, como se ela tivesse o poder de transformar voce em alguem mais culto, respeitavel, rebelde… de boa, nenhuma droga faz isto. Usurarios de cocaina, por exemplo, ficam chatos pra caralho, falando sem parar, se movimentando freneticamente pelos ambientes ou ocultando-se, sumindo quando mais se precisa deles. Uma merda.
O pior é que esta banalização do mito, acaba colaborando para que não se quebre esta corrente da droga. Lembro-me do dia em que morreu Raul Seixas, aquele monte de jovens já em pleno desenvolvimento do alcoolismo, correndo pros bares para beber em homenagem ao Raul. De boa, ninguem sadio precisa de uma desculpa pra beber. Só alcoolatras justificam o ato de beber: tá calor, tá frio, tô feliz, tô triste… Estes fãs que glamurizaram o artista drogado desconheciam a situação em que se encontrava o Raul em razao do abuso de alcool e drogas: apaticos, solitario, doente, desdentado, assustado, paranoico, sofrendo com dores fisicas e psicologicas. Isto não tem glamour algum.
Muita gente tambem fez julgamentos equivocados sobre a Amy, gente que se acha acima do bem e do mal, gente que foi logo apontando as causas de sua morte: desestruturação da familia, fraqueza de caráter, personalidade… enfim, gente que desconhece a dor alheia. Nenhuma familia, na maioria dos casos, é “culpada” pelo filho usar drogas, nem mesmo o usuário é. Trata-se de uma doença e ninguem pode ser acusado de nascer com uma doença. Mas pessoas ignorantes quanto a isto se acham no direito de julgar e nossa explêndida imprensa foi na cola, publicando fotos da cantora sob os efeitos devastadores da droga, dei um google com imagens da Amy para ilustrar est post e lá estao fotos dela suja, quebrada, caida, enfim, uma exposição desnecessária da dor e sofrimento alheio, algo como expor imagens de alunos assassinados.
Li pessoas chamando Amy de lixo humano em razão de sua adicção. De boa, posso enumerar aqui centenas de pessoas que considero lixo humano e que são caretaças: Jose Luis Datena, Hugo Chaves, George Bush, Papa Bento XVI, José Dirceu, Faustão…
Gosto do legado musical que foi deixado pela Amy, sobre sua vida pessoal, nao posso dizer nada, não a conhecia pessoalmente. Só posso falar um pouco sobre esta faceta relacionada sobre drogas por que disto eu entendo, não muito, mas o suficiente pra não falar muita merda.
Márcio Américo é ator, humorista, escritor e autor de Os meninos de Kichute"

Um comentário:

Juliana Pereira disse...

É preciso mais coragem para ir contra a maré da glamourização das drogas, da exaltação ao alcoolismo e vícios que degradam o ser humano. Texto brilhante!